Fazia muito sol naquele dia, e ele olhava de dentro para fora, a vitrine cheia de cristais pendurados em forma de lustres, quando os raios de sol atingiam os micro vidrinhos a loja toda parecia ter sido inundada de alegria e paz. Ele sabia muito bem o que era paz, o sentimento mais sereno, muitas vezes confundido com estagnação e tédio, mas Matheus sabia bem que paz nada tinha a ver com aquilo e sim com um gosto doce e sereno que se sentia na boca e ondas mornas que se invadiam seu corpo.
- Que horas você chegou hoje meu filho?
Perguntou a velha Zenilda, dona da loja Vidros Perfeitos, na qual ele trabalhava havia mais ou menos três anos, e todos os dias Zê (como era chamada) o perguntava a mesma coisa.
- Cheguei as oito dona Zê - Respondia ele cotidianamente, mesmo tendo chegado as dez ou onze da manha, acontece que mal havia chegar um pouco mais tarde se Amanda sempre o acobertava?
Amanda, a doce Amanda pensou ele sentindo o princípio de uma ereção, ela era daquelas que pareciam ter acabado de sair de um pote de mel, sua pele tinha a cor e o cheiro de néctar de abelhas, seu cabelo vivia solto na altura dos ombros eram castanhos assim como os olhos, e tinha o corpo que a natureza concede a todas as jovens sadias de dezessete anos.
Ele estava apaixonado e apenas por isso naquele dia havia realmente chegado as oito, já que Amanda que era filha de dona Zê ali estava a esperar por ele.
Há meses ele vinha tendo sonhos e mais sonhos com ela, desde que ela se mudara de Ouro Preto para a casa da mãe no Rio, ele não pensava em outra coisa, mal ousava comentar tal coisa aos amigos, afinal não pegava nada bem pra uma cara de vinte e um anos, nascido e criado na malandragem das favelas cariocas como ele se apaixonar pela filha gostosa da patroa.
Matheus nasceu e cresceu no Canta Galo, e desde que fizera dezoito anos começou a trabalhar direitinho com carteira assinada , na vidraçaria de dona. Zê, ele não era um dos muitos marmajões encostados na aba da maconha que existiam por ali, ele estudou a vida toda, seguindo os conselhos de sua mãe e fugindo da malandragem de seu pai, passou no vestibular para engenharia elétrica e agora estudava a noite e aplicava seus conhecimentos na loja onde trabalhava, seu trabalho era provisório claro, mas de meses em meses se formam anos, e o tempo passa mais rápido do que podemos contar, e assim ele foi ficando. trabalhando de dia e estudando a noite.
A luz começou a cair lentamente e ele foi colocar sua mochila e seu capacete para correr até a Tijuca era terça, a aula que ele menos gostava mas mesmo assim já estava prestes a sair quando ouviu alguém lhe chamar, ele se virou e era ela, estava usando uma calça jeans justa e uma blusinha branca, perfeita.
-Você me da uma carona Mett?
ele não podia ouvi-la chamar daquele jeito "Mett" havia algum jeito mais erótico para se chamar alguém? exeto é claro:
- Por favor Mett?
Este "por favor Mett" ecoou em sua cabeça como sinos e ele teve de usar todo auto controle do mundo para não agarra-la ali mesmo.
-Claro que sim, mocinha! onde você quer ir?- respondeu usando toda a desenvoltura que conseguiu, o que não era muita coisa.
- Eu vou conhecer o Maracanã com umas amigas, eu sei que você estuda ali perto, então...
- Vamos lá - entregou um capacete a ela - sobe ai.
Aparentando muita pratica ela colocou o capacete na cabeça e apertou seus braços finos contra a cintura de "Mett" o mais forte que conseguiu, pois apesar da desenvoltura com o capacete morria de medo de moto e de tesão por Mett.
Quando eles estavam chegando a Praça da Bandeira, ele olhou para trás para se certificar que ela estava bem e não viu quando o caminhão que estava a frente freou rápido de mais, quando ele voltou a olhar só o que viu foi a lataria do caminhão amassada e o corpo de Amanda atirado mais ou menos uns cinquenta metros atrás, e a última coisa que ouviu foi "o que esse neguinho filho da puta fez com essa menina?" do motorista do caminhão.
muito foda esse texto. parabéns mesmo pra quem escreveu!
ResponderExcluir"É como passar a vida toda sonhando em conhecer Praga, e ao sair do avião levar um tiro na cabeça."
ResponderExcluir