quinta-feira, 14 de julho de 2011

"Por favor, Mett"

Fazia muito sol naquele dia, e ele olhava de dentro para fora, a vitrine cheia de cristais pendurados em forma de lustres, quando os raios de sol atingiam os micro vidrinhos a loja toda parecia ter sido inundada de alegria e paz. Ele sabia muito bem o que era paz, o sentimento mais sereno, muitas vezes confundido com estagnação e tédio, mas Matheus sabia bem que paz nada tinha a ver com aquilo e sim com um gosto doce e sereno que se sentia na boca e ondas mornas que se invadiam seu corpo.
- Que horas você chegou hoje meu filho?
Perguntou a velha Zenilda, dona da loja Vidros Perfeitos, na qual ele trabalhava havia mais ou menos três anos, e todos os dias Zê (como era chamada) o perguntava a mesma coisa.
- Cheguei as oito dona Zê - Respondia ele cotidianamente, mesmo tendo chegado as dez ou onze da manha, acontece que mal havia chegar um pouco mais tarde se Amanda sempre o acobertava?
Amanda, a doce Amanda pensou ele sentindo o princípio de uma ereção, ela era daquelas que pareciam ter acabado de sair de um pote de mel, sua pele tinha a cor e o cheiro de néctar de abelhas, seu cabelo vivia solto na altura dos ombros eram castanhos assim como os olhos, e tinha o corpo que a natureza concede a todas as jovens sadias de dezessete anos.
Ele estava apaixonado e apenas por isso naquele dia havia realmente chegado as oito, já que Amanda que era filha de dona  Zê ali estava a esperar por ele.
Há meses ele vinha tendo sonhos e mais sonhos com ela, desde que ela se mudara de Ouro Preto para a casa da mãe no Rio, ele não pensava em outra coisa, mal ousava comentar tal coisa aos amigos, afinal não pegava nada bem pra uma cara de vinte e um anos, nascido e criado na malandragem das favelas cariocas como ele se apaixonar pela filha gostosa da patroa.
Matheus nasceu e cresceu no Canta Galo, e desde que fizera dezoito anos começou a trabalhar direitinho com carteira assinada , na vidraçaria de dona. Zê, ele não era um dos muitos marmajões encostados na aba da maconha que existiam por ali, ele estudou a vida toda, seguindo os conselhos de sua mãe e fugindo da malandragem de seu pai, passou no vestibular para engenharia elétrica e agora estudava a noite e aplicava seus conhecimentos na loja onde trabalhava, seu trabalho era provisório claro, mas de meses em meses se formam anos, e o tempo passa mais rápido do que podemos contar, e assim ele foi ficando. trabalhando de dia e estudando a noite.
A luz começou a cair lentamente e ele foi colocar sua mochila e seu capacete para correr até a Tijuca era terça, a aula que ele menos gostava mas mesmo assim já estava prestes a sair quando ouviu alguém lhe chamar, ele se virou e era ela, estava usando uma calça jeans justa e uma blusinha branca, perfeita.
-Você me da uma carona Mett?
ele não podia ouvi-la chamar daquele jeito "Mett" havia algum jeito mais erótico para se chamar alguém? exeto é claro:
- Por favor Mett?
Este "por favor Mett" ecoou em sua cabeça como sinos e ele teve de usar todo auto controle do mundo para não agarra-la ali mesmo.
-Claro que sim, mocinha! onde você quer ir?- respondeu usando toda a desenvoltura que conseguiu, o que não era muita coisa.
- Eu vou conhecer o Maracanã com umas amigas, eu sei que você estuda ali perto, então...
- Vamos lá - entregou um capacete a ela - sobe ai.
Aparentando muita pratica ela colocou o capacete na cabeça e apertou seus braços finos contra a cintura de "Mett" o mais forte que conseguiu, pois apesar da desenvoltura com o capacete morria de medo de moto e de tesão por Mett.
Quando eles estavam chegando a Praça da Bandeira, ele olhou para trás para se certificar que ela estava bem e não viu quando o caminhão que estava a frente freou rápido de mais, quando ele voltou a olhar só o que viu foi a lataria do caminhão amassada e o corpo de Amanda atirado mais ou menos uns cinquenta metros atrás, e a última coisa que ouviu foi "o que esse neguinho filho da puta fez com essa menina?" do motorista do caminhão.

2 comentários:

  1. muito foda esse texto. parabéns mesmo pra quem escreveu!

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  2. "É como passar a vida toda sonhando em conhecer Praga, e ao sair do avião levar um tiro na cabeça."

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