quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Clark

Se te serve de consolo, não há um minuto em que eu não pense em você e tenha vontade de morrer junto.
Se te serve de consolo, não param de escorrer lágrimas inúteis do meu rosto, e elas estão manchando meus papeis, meus livros, embaçando minha visão.
Se te serve de consolo, eu nunca estive tão miserável.
Se te serve de consolo, eu me sinto como o menino do filme inteligência artificial, rezando para que a fada azul possa me dar uma hora com você.

Porque você morreu.
Porque você morreu?

Nenhuma comida tem gosto, nenhum dia é bonito, eu passei a evitar as pessoas vivas, meio que despreza-las, pois a unica pessoa com quem eu gostaria de falar, nunca mais poderá me ouvir. Como alguém no mundo consegue ser feliz, superar a ausência insuportável que você está causando?

Se eu pudesse apagar Janeiro de nossas vidas, se eu pudesse ter evitado, mudado, desfeito, se pudesse ter sido eu ao invés de você...Você morreu me desprezando, me achando a pior pessoa do mundo ( e você não é o único) e mesmo quando eu te pedi desculpas, fui rude, cheia de mim, um pedido de desculpas que mostrava meu arrependimento sincero, mas também uma arrogância e uma indiferença que não me são características.

Analisando friamente foi sim, uma doença desde o inicio, foi errado, confuso, perturbado, passional, urgente e louco. E eu não vou negar, agora apenas porque você está morto, que foi um tremendo passo em falso, de nós dois. Mas mesmo assim, a consciência da sua morte é que me oferece um "bom dia", e o nosso episódio final, terrível, é o que fecha minha noite.

Agora, nada, absolutamente nada, que eu faça pode me redimir com você, pois nenhuma faixa de perdão pendurada nos braços do cristo, ou um flash mob com 50 mil pessoas no maracanã gritando "Me desculpe, Clark" poderá ser visto por você.

Lembra quando estávamos bem, quero dizer "bem" em nossos termos, eu agradecia a Deus "Obrigada Senhor, por ter colocado tal figura em meu caminho" e a gente ria, do próprio sarcasmo! Você me ensinou a gostar de Beatles, me mostrou "filmes de homem", eu acho que não deu tempo de eu te apresentar a Audrey...

O problema é que quando eu olho para um canto e fixo meu olhar por três segundos, lembro de uma cena sua, e fico reconstruindo as memórias que eu já havia destruído, lembro do seu rosto meio de lado com aquele sorriso torto, lembro das "cartas" que havíamos trocado, lembro de você me chantagiando pra eu não ir embora, lembro de você chamando meu nome desesperado enquanto eu virava as costas e não ligava.

Saiba você que deixou mais viuvas que um poiligamico, mas irmãos que R.R. Soares, com certeza você aproveitou sua vida, tão curta mas tão vivida, não suporto pensar no futuro que você teria, seria brilhante, Senhor Clark, eu tenho certeza que você teria um futuro digno de Hollywood.

Eu sinto sua falta como nunca senti de ninguém, porque desta vez eu sei que não poderei me arriscar nas estações do metro para ver você.

ps.: acho que aquele protetor solar que você tanto queria de volta, não vai mais fazer falta...

pps.: não poderia faltar uma piadinha infame já que estamos no meu blog desta vez.