sexta-feira, 29 de julho de 2011

O limbo

O lugar era úmido e nublado, as vezes chovia outras um sol pálido cintilava entre a vegetação já envelhecida e apática. Pessoas confusas vagavam tentando achar, o que há muito havia se perdido, procuravam o instante em que haviam fracassado, pois sempre há um minuto que muda tudo, estava tudo bem a dois segundos atrás mas a gota d'água caiu entornando o copo cheio.
Vagando pelas palavras, rascunhando a mente, elas sempre perdem seu objetivo principal e se tornam aleatórias; acabam por ceder a rotina, ceder nas escolhas, o que importa se a porta já não se tranca, se não pode ser feito hoje, se vamos esperar sentados mais algum tempo?
Não importa contanto que algum dia se faça, que o que se procura seja encontrado, e que o vento continue soprando seu rosto.

Tudo vai ficar bem.

domingo, 24 de julho de 2011

Opostos

Ela o amava de uma forma inexplicável e difícil de entender. Ele, bem, não sabemos o que ele sentia e se sentia falta da doce menina. Ela pensava nele o dia inteiro e sua imaginação terminava ser fértil. Ele, ninguém sabia o que se passava por sua cabeça. Ela tentava ser forte para seguir em frente e tirá-lo da mente. Ele simplesmente vivia um dia de cada vez. Ela saia, dançava e tentava ao máximo se distrair. Ele estudava, via seus filmes e nas horas vagas tentava ser o que não era. Ela acordava cedo e ia trabalhar, ele ia às suas massantes aulas cotidianamente. Ela era sonhadora e ele realista.
Mas, de alguma forma eles se completavam. Só precisavam de uma ajudinha do cruel destino.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Ela era forte e acreditava em amores verdadeiros e eternos. Era também sonhadora e toda vez ao acordar penteava seus negros e aveludados fios de cabelo que iam até a cintura, em frente ao espelho. Imaginava encontrar a pessoa perfeita, que a fizesse feliz para o resto da vida.
Foi à cozinha, preparou seu café, como fazia todas as manhãs, abriu seu livro e pensou em como seria se tivesse alguém.
- Faríamos tudo junto! - pensou em voz alta- Passaríamos a manhã jogados na cama observando cada linha, cada detalhe do rosto do outro; leríamos infinitos livros e nos imaginaríamos como personagens; eu faria o jantar enquanto ele trabalha em um de seus textos; dividiríamos um cigarro, beberíamos vodka e daríamos altas e longas gargalhadas; veríamos seus filmes chatos e eu adormeceria em seus braços; planejaríamos nossos filhos e teríamos pequenas discussões sobre qual nome escolher; enfim, seríamos um só! - Terminou seu pequeno devaneio e voltou ao seu livro.

sábado, 16 de julho de 2011

LPCS

Cinco anos atrás, estava certa que ele seria meu, apesar de toda a relutância, e de todos perceberem o que eu não conseguia ver, só enxergava a pessoa culta e engraçada que estava por baixo de um nariz de porquinho e um gosto muito duvidoso para roupas. um nerdizinho que usava seu jeitão de Jim Carrey como disfarce para sua terrível timidez.
Meu Deus como eu conseguira me enganar tanto com alguém, logo com ele que era a pessoa que mais importava, ficou no topo da lista de pessoas preferidas por anos... um sorriso triste e nostálgico se abre em meu rosto agora pois eu vejo com toda clareza que acabou completamente, sem vestígios dos pedacinhos que ficaram espalhados pelo chão como cacos minúsculos de vidro fino.
Há cinco minutos estava conversando com um garoto jovem, malhado, que faz academia e passa o resto do dia em frente ao computador sem fins lucrativos; um garoto que fala gírias gays como respira, que vai a festas pops e analisa suas possíveis presas com um piscar de olhos, ele tem 23 anos e vive com o dinheiro da mãe, fez uma faculdade particular, pois não quis se dar ao trabalho de tentar de novo, um garoto tão profundo como um pires.
Irreconhecível é a palavra para defini-lo, quando você deixa de amar alguém ela se mostra a pessoa mais bizarra já vista pelo homem, ainda mais quando ela se assume homossexual não só no sexo mas dita isso como um estilo de vida, sua sexualidade se tornou uma religião e qualquer coisa que não se encaixe no padrão gay, não é bem vinda, assim como o piano que tocava e as roupas que usava.
Ele é outra pessoa agora, alguém que eu não faria a menor questão de me aproximar.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

"Por favor, Mett"

Fazia muito sol naquele dia, e ele olhava de dentro para fora, a vitrine cheia de cristais pendurados em forma de lustres, quando os raios de sol atingiam os micro vidrinhos a loja toda parecia ter sido inundada de alegria e paz. Ele sabia muito bem o que era paz, o sentimento mais sereno, muitas vezes confundido com estagnação e tédio, mas Matheus sabia bem que paz nada tinha a ver com aquilo e sim com um gosto doce e sereno que se sentia na boca e ondas mornas que se invadiam seu corpo.
- Que horas você chegou hoje meu filho?
Perguntou a velha Zenilda, dona da loja Vidros Perfeitos, na qual ele trabalhava havia mais ou menos três anos, e todos os dias Zê (como era chamada) o perguntava a mesma coisa.
- Cheguei as oito dona Zê - Respondia ele cotidianamente, mesmo tendo chegado as dez ou onze da manha, acontece que mal havia chegar um pouco mais tarde se Amanda sempre o acobertava?
Amanda, a doce Amanda pensou ele sentindo o princípio de uma ereção, ela era daquelas que pareciam ter acabado de sair de um pote de mel, sua pele tinha a cor e o cheiro de néctar de abelhas, seu cabelo vivia solto na altura dos ombros eram castanhos assim como os olhos, e tinha o corpo que a natureza concede a todas as jovens sadias de dezessete anos.
Ele estava apaixonado e apenas por isso naquele dia havia realmente chegado as oito, já que Amanda que era filha de dona  Zê ali estava a esperar por ele.
Há meses ele vinha tendo sonhos e mais sonhos com ela, desde que ela se mudara de Ouro Preto para a casa da mãe no Rio, ele não pensava em outra coisa, mal ousava comentar tal coisa aos amigos, afinal não pegava nada bem pra uma cara de vinte e um anos, nascido e criado na malandragem das favelas cariocas como ele se apaixonar pela filha gostosa da patroa.
Matheus nasceu e cresceu no Canta Galo, e desde que fizera dezoito anos começou a trabalhar direitinho com carteira assinada , na vidraçaria de dona. Zê, ele não era um dos muitos marmajões encostados na aba da maconha que existiam por ali, ele estudou a vida toda, seguindo os conselhos de sua mãe e fugindo da malandragem de seu pai, passou no vestibular para engenharia elétrica e agora estudava a noite e aplicava seus conhecimentos na loja onde trabalhava, seu trabalho era provisório claro, mas de meses em meses se formam anos, e o tempo passa mais rápido do que podemos contar, e assim ele foi ficando. trabalhando de dia e estudando a noite.
A luz começou a cair lentamente e ele foi colocar sua mochila e seu capacete para correr até a Tijuca era terça, a aula que ele menos gostava mas mesmo assim já estava prestes a sair quando ouviu alguém lhe chamar, ele se virou e era ela, estava usando uma calça jeans justa e uma blusinha branca, perfeita.
-Você me da uma carona Mett?
ele não podia ouvi-la chamar daquele jeito "Mett" havia algum jeito mais erótico para se chamar alguém? exeto é claro:
- Por favor Mett?
Este "por favor Mett" ecoou em sua cabeça como sinos e ele teve de usar todo auto controle do mundo para não agarra-la ali mesmo.
-Claro que sim, mocinha! onde você quer ir?- respondeu usando toda a desenvoltura que conseguiu, o que não era muita coisa.
- Eu vou conhecer o Maracanã com umas amigas, eu sei que você estuda ali perto, então...
- Vamos lá - entregou um capacete a ela - sobe ai.
Aparentando muita pratica ela colocou o capacete na cabeça e apertou seus braços finos contra a cintura de "Mett" o mais forte que conseguiu, pois apesar da desenvoltura com o capacete morria de medo de moto e de tesão por Mett.
Quando eles estavam chegando a Praça da Bandeira, ele olhou para trás para se certificar que ela estava bem e não viu quando o caminhão que estava a frente freou rápido de mais, quando ele voltou a olhar só o que viu foi a lataria do caminhão amassada e o corpo de Amanda atirado mais ou menos uns cinquenta metros atrás, e a última coisa que ouviu foi "o que esse neguinho filho da puta fez com essa menina?" do motorista do caminhão.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Tic Tac

Todas as vezes que nos despedimos eu sinto que será a última vez que o faremos;
Eu nunca entendo o que o seu olhar quer dizer;
As frases claras nunca são ditas;
Os meses vão passando;
Os dias seguem em fila, devagar, um após o outro,
Caindo num mar de esquecimento
Em uma contagem regressiva ritmada e sádica;
Mais um é menos um, um paradoxo infinito que tem a capacidade de definir pessoas;
Negativos de um lado, positivos do outro;
Segregados.

tic tac

segunda-feira, 4 de julho de 2011