segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O erro

Existem pessoas, raras e doentes, pessoas passionais e mesmo assim frias, tentando moldar as situações de acordo com seus interesses. Pessoas que podem ser o seu melhor sonho ou seu pior pesadelo, que podem infiltrar idéias em sua mente, montar e desmontar suas percepções como se fosse um quebra cabeça.
Conheci alguém assim, há alguns meses, e talvez tenha sido a pior pessoa que eu pudesse conhecer.
Tudo aconteceu muito rápido, a multidão dançante ia e vinha, havia muita fumaça e as luzes coloridas ofuscavam nossos rostos, a musica alta ensurdecia nossos ouvidos. E mesmo assim, eu me apresentei como Lucy, afinal qual seria o problema de reviver uma personalidade que sempre extraiu de mim a espontaneidade e a loucura pura e simples. Eu disse pra ele que nós nunca mais nos veríamos novamente.
Deixei tudo acontecer, o primeiro lugar que fomos foi a Catedral, quatro vitrais enormes cercavam a construção coberta de silencio e simbolismo; sem aproximações ou beijos nós seguimos adiante.
Tudo resulta de um processo e o fato é que quando ele me salvou eu estava acabada, tudo em que eu acreditava havia desmoronado e o cotidiano não fazia mais sentido, eu tinha perdido alguém que eu não queria e não aguentaria perder, então busquei suporte em quem eu sabia que iria me segurar.
Enfim estávamos seguros, respirávamos fundo, dividíamos segredos, cantávamos e assistíamos filmes, fiz dele minha casa, eu não enganei ou manipulei, só vivia um dia após o outro, vivendo de longas conversas e de vazios preenchidos pela enorme conta de telefone, sempre conectados mesmo quase nunca juntos.
Até que as brigas começaram, ele não aceitava o modo que eu lidava com minha vida, criticava meus hábitos, meus amigos, mas quando estamos reunidos, todos, ele tentava agir como se concordasse, ele precisava da aceitação do grupo, precisava de atenção, de um palco, a vida dele funcionava como um grande filme dramático e ele cumpria seu papel de ante herói, manipulador e cativante, que acaba caindo em sua própria armadilha.
Depois de um mês eu já estava mais confiante, sabia que ficaria bem mesmo sem ele ou qualquer outro, eu podia atravessar a rua sozinha, e lembrar onde guardei a chave.
As criticas dele só aumentavam e eu agora enxergava todos os seus defeitos, ele estava me sugando me arrastando para outro buraco negro, e neste eu não iria entrar, assim sendo numa madrugada de quarta feira eu disse com todas as letras que eu não queria mais.
Acontece que ele não conseguiu manter distância, me procurava, falava e calava, chorava, tomava remédios e se afogava num sono que talvez não tivesse volta; me fazia sentir o próprio demônio por fazê-lo sofrer daquela forma.
A partir dai eu não sei o que aconteceu comigo, minhas idéias circulavam entre o amor doente que nos cercava e a indiferença e a impaciência que povoava meus pensamentos enquanto eu não escutava sua voz, a cada ligação eu mudava minha opinião, mordendo e assoprando sem tomar real consciência do que estava fazendo.
Dois encontros se sucederam, tentavas de encontrar “o caminho do meio”, promessas, beijos, traições e mentiras sendo reveladas, e depois corrigidas, ele escrevia e apagava a verdade contando uma hora uma coisa outra hora outra, fazendo de minhas certezas um poço de desconfiança seguido de outro encontro onde o silencio e o desconforto da presença um do outro preenchia o lugar, até que não havia mais saída, nem maneiras de reconciliação, finalmente tinha acabado.
Duas pessoas dramáticas e confusas estão agora separadas e elas concordaram pela primeira vez que nunca mais se veriam novamente.