quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Prisma

Foi a dor de cabeça que a fez acordar desta vez.
Ela via uma luz acessa no escritório e pensou que seu pai ou seu avô estivessem trabalhando em alguma coisa. A passos trôpegos de quem acaba de acordar, ela atravessou os dois tapetes e parou na porta do cômodo vazio, apagou a luz e entrou, luz não combina muito com o estado em que estava, ela olhou o relógio eram quatro e quinze da manha de uma quarta-feira, “dia inútil” pensava ela.
Julia resolveu tirar um ano de férias, então ela vivia num eterno final de semana, as vezes badalado, outras vezes solitário, a maioria das vezes tedioso.
Depois do segundo mês de “férias” ela já não conseguia mais dormir antes de cinco da manha, então passou a tomar tranqüilizantes a meia noite, dormia até as dez e depois ia dar uma volta, se o tempo ajudasse é claro.
Os cabelos dela caiam cansados sobre a blusa velha que usava como pijama, deixou seu corpo pousar no sofá fechou os olhos e os abriu imediatamente, não era justo que todas as vezes que fechasse os olhos pensasse nele, mas a vida não é nada justa, e ela se permitiu afogar-se na melancolia mais uma vez, quanto tempo havia se passado? Um ano, dois, ou talvez fosse um mês, uma semana, um dia, a cena era a mesma, sua lembrança mais forte.

Julia estava com um rabo de cavalo alto, usava um short jeans claro e sua blusa do Nirvana, Dan estava com aquele all star azul que ela adorava, eles pararam o carro na ponte que fazia curva, estava enferrujada, interditada, mas é claro que isso pouco importava, ela seguiu andando pela ponte até onde os trilhos cobriam o rio que a cortava, ele só acendeu o cigarro e olhava com curiosidade – sem preocupação, um indício que não se importava talvez – Ela voltou devagar pra ele, com algo nas mãos,
Era um prisma, uma bolinha de cristal que cabia no bolso do seu short. Com um sorriso torto ela colocou o prisma em sua mão e disse “Feliz Natal” ele olhou dentro dos olhos dela e a beijou como se nunca mais fosse beijar ninguém.
Abriu os olhos, estava no escritório, ainda eram quatro da manha, ainda era quarta-feira,
Ela voltou para seu quarto, tomou mais um remédio, e dormiu até uma da tarde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário